TEXTO DO 3º.ANO DO ENSINO MÉDIO
África – localização do continente
A partir
da localização visual do Meridiano de Greenwich, do Equador e dos Trópicos de
Câncer e Capricórnio, identificamos que a África é o único continente a possuir
terras nos quatro hemisférios. A localização das zonas térmicas da África
(página 3 do caderno do aluno) é um elemento importante na caracterização da
distribuição do clima e vegetação africanos
A fronteira norte do continente africano é muito próximo da
Europa e o Estreito de Gibraltar e o Mar Mediterrâneo são elementos
facilitadores de acesso entre os dois continentes, tanto da colonização no
século XIX como também do fluxo migratório de africanos para a Europa nos dias
atuais. O Mar Vermelho, a Península do Sinai e o Istmo de Suez estão
localizados na fronteira com a Ásia: mas a fronteira oficial costuma ser fixada
no Istmo de Suez, o que faz da península do Sinai território asiático, região
de grande importância econômica (jazidas de petróleo) para o Egito que,
finalmente, a obteve em 1979 após assinatura de um acordo de paz com Israel.
Importantes cidades egípcias localizam-se nos limites com a península do Sinai,
e a localização do Egito entre os dois continentes leva alguns geógrafos a
propor a fronteira israelo-egípcia como o limite geográfico entre a Ásia e a
África. Por isso a importância geo-estratégica do Canal de Suez (que esteve sob
domínio inglês até 1956, quando foi nacionalizado pelo presidente egípcio Gamal
Abdel Nasser)
África: clima, vegetação, relevo e hidrografia
Há uma forte correlação entre os tipos climáticos e a
distribuição da cobertura vegetal no continente africano. A distribuição das
precipitações na África apresenta uma variação de máxima para mínima no sentido
centro-norte e centro-sul. Na faixa equatorial encontramos a vegetação da
floresta equatorial (pluvial e tropical) em virtude das chuvas intensas e das
elevadas temperaturas. Na região dos trópicos, o tipo climático é caracterizado
por uma variação sazonal de chuvas no verão e seca no inverno, o que explica a
existência das savanas. Ao norte e ao sul do continente, ocorrem áreas
extremamente secas, com destaque para os Desertos do Saara (ao norte) e do
Kalahari (ao sul), onde, em algumas áreas muito localizadas e pontuais,
verifica-se a presença da vegetação de oásis, resultante do afloramento do
lençol freático subterrâneo. A vegetação do tipo estepe faz parte das formações
de regiões semiáridas, nas margens dos desertos, sendo composta de herbáceas
ressecadas e arbustos muito esparsos. Essa extensa faixa semiárida na borda do
Deserto do Saara é conhecida como Sahel. O tipo climático mediterrâneo ocorre nas
extremidades norte e sul do continente africano, onde aparece vegetação do tipo
maquis e garrigues, caracterizada por pequenos arbustos que se misturam às
formações xerófitas, às oliveiras, às videiras e às gramíneas ressecadas. A
economia relaciona-se a dos países mediterrâneos: ao norte do continente
africano destaca-se a produção de óleo de oliva na Tunísia e na Argélia e, ao
sul, destaca-se a produção vinícola.
Com exceção do Rio Nilo, os grandes rios africanos, como o
Congo e o Zambeze, estão em áreas de clima equatorial e tropical. A existência
dos rios, dos desertos, da vegetação e a proximidade com o Mar Mediterrâneo são
fatores fundamentais para compreender a distribuição da população pelo
continente como também das atividades econômicas e da organização social da
população. Nas áreas mais elevadas do continente ocorre o clima frio de
montanha. O Rio Nilo destaca-se por atravessar áreas desérticas em grande parte
de seu curso e tem uma importância regional ao longo da história. Em contraste
com o Saara, o Rio Nilo propicia áreas muito férteis à África, fornecendo água
e solos agricultáveis em suas margens, além de água para irrigação das áreas
adjacentes ao vale do rio. Nas margens desse rio, ocorrem muitas das principais
aglomerações humanas como Cairo e Alexandria, no Egito, e Cartum e Ondurman, no
Sudão, esse na costa oriental da África. Além das férteis terras do Vale do
Nilo, na atualidade, a utilização de tecnologias agrícolas aliadas a ajustes
estruturais de produção permitiu a expansão de uma agricultura internacionalmente
competitiva também em países da denominada África Subsaariana. Hoje os países
do Golfo da Guiné, liderados pela Nigéria, são os maiores produtores mundiais
de cacau, e juntamente com países localizados na África austral e oriental
destacam-se também na produção de café, algodão e hortaliças.
A
regionalização da África
Saara esse enorme deserto (o maior do mundo) na configuração natural,
cultural e política do continente africano, separa o extremo norte africano do
resto do continente. Historicamente, funcionou como uma barreira que, embora
transposta por fluxos comerciais intensos, influenciou profundamente a
configuração das culturas e civilizações na África. O Rio Nilo foi o primeiro e
principal eixo comercial através do deserto, permitindo a aproximação entre os
povos que habitavam as porções norte e sul do Saara.
Nos séculos VII e VIII, povos árabes conquistaram todo o norte
africano, antes de invadirem a Península Ibérica (Portugal e Espanha). O
domínio árabe no norte da África levou à difusão do islamismo e da língua árabe
entre os povos da porção setentrional do continente. Nesse período, o Saara
também passou a ser atravessado por rotas de caravanas árabes, que
comercializavam inúmeros produtos e escravos dos reinos ao sul do deserto.
Essas relações comerciais foram responsáveis pela expansão do islamismo também
para os povos que habitavam a porção sul do Saara. Isso explica a grande
presença de adeptos do islamismo nessa parte do continente.
Foram também essas relações – em especial, o comércio de
escravos — que levaram os árabes a tratar o sul do Saara como “terra de
negros”. Dessa forma, a influência árabe e, posteriormente, a européia,
ratificaram a regionalização que distinguia uma “África Branca” de uma “África
Negra”. Essa designação das porções norte e sul do continente pela cor da pele,
além de não esclarecer em nada as características culturais próprias de cada
região, representaram o modelo racista e preconceituoso que fundamentou a
colonização do continente no século XIX.
Com o fim da colonização, essa regionalização ratificada
pelo imperialismo foi profundamente criticada, tendo em vista o aprofundamento
nos estudos acerca da heterogeneidade das culturas africanas. Na atualidade, os
organismos internacionais consolidaram a regionalização em África do Norte e
África Subsaariana
África do Norte
Os países do norte do continente são: Marrocos, Líbia,
Tunísia, Egito, Argélia e Saara Ocidental (sob o domínio do Marrocos). As
populações desses países têm uma unidade cultural dada pela religião islâmica,
trazida pelos árabes da Península Arábica a partir do século VII.
a) Magreb e Grande Magreb
Magreb, em árabe, designa “onde o Sol se põe”, pois,
localizada a oeste, encontra-se em oposição ao “machrek”, que significa “o
nascente”, porção representada pela Península Arábica. O Magreb (também Magreb
Central) corresponde à porção ocidental do norte da África, onde se localizam o
Marrocos, a Argélia e a Tunísia, países que foram integrados ao império
colonial francês no século XIX — e que, anteriormente, faziam parte do Império
Turco-Otomano. O Grande Magreb é uma região que se estende da Mauritânia à
Líbia. Em relação ao conjunto das exportações dos países que o compõem (ver
figura “Grande Magreb: exportações, 2003” na página 13 do caderno do aluno), as
trocas econômicas e comerciais com a Europa são mais intensas que as relações
bilaterais que mantêm entre si. Essa observação é importante, pois permite
explicar uma das razões que tornam essa imensa região um espaço estratégico do
ponto de vista dos europeus e, mais recentemente, dos chineses, em virtude da
grande importância do petróleo e de outros minérios aí existentes. Outras
características dessa região são: a proximidade geográfica com a Europa; o fato
ser a mais rica da África, com vastas reservas de petróleo, gás natural,
fosfato, ferro etc.; o fato de ser importante fonte emissora de migrações com
destino à União Européia.
b) O Saara e o Vale do Nilo
Considerando
o meio físico e sua ocupação pelo ser humano, a África do Norte ou Setentrional
possui, além do Magreb, outras duas áreas mais ou menos distintas: o Vale do
Rio Nilo e o Saara.
Em
relação ao Vale do Rio Nilo, esse rio é muito importante para vários países
africanos e não apenas para o Egito. Observem o percurso completo desse rio, da
nascente no Lago Vitória à foz no Mar Mediterrâneo (ver mapa “África: físico
com hidrografia” na página 17 do caderno do aluno). Na Antiguidade foi muito
importante, pois foi onde a civilização egípcia floresceu. Por ser o único rio
a atravessar o Deserto do Saara no sentido sul-norte, o Nilo poderá ser
comparado ao Rio São Francisco, no Brasil. Tanto o Nilo quanto o São Francisco
possuem traçado sul-norte; atravessam áreas áridas e semiáridas; são utilizados
para transporte, produção de eletricidade, irrigação. O que os difere apenas é
o tipo de foz: enquanto o Nilo apresenta foz em delta (quando um rio deságua no
oceano por várias saídas), o São Francisco deságua no Atlântico formando um
grande estuário (quando um rio deságua no oceano por uma única saída).
Em
contraste com o Saara, o Rio Nilo propicia áreas úmidas e férteis, fornecendo
água e solos agricultáveis em suas margens, além de irrigação em áreas
adjacentes ao Vale do Rio Nilo, possuindo em suas margens muitas aglomerações
humanas como, por exemplo, Cairo, Alexandria, no Egito e Cartum e Ondurman, no
Sudão. O Rio Nilo nasce na região central da África, no Lago Vitória, e corre
na região central e nordeste do continente, atravessando Uganda, Sudão e Egito,
desembocando em delta no Mar Mediterrâneo. A represa de Assuã, no Rio Nilo,
controla o nível das águas e fornece energia elétrica ao Egito.
Quanto
ao Deserto do Saara – localizado no norte do continente africano, estendendo-se
do Oceano Atlântico até o Mar Vermelho –, vários países localizados na porção
setentrional africana apresentam baixa densidade demográfica pelo fato dessa
região ser árida, dificultando a ocupação humana e as atividades econômicas. O
sistema da Cadeia do Atlas influencia na aridez do Deserto do Saara que, em
razão de suas elevadas altitudes e orientação transversal, impede a passagem
dos ventos que chegam do norte carregados da umidade do mar. A designação de
“sistema” relaciona-se com o fato dessa cadeia formada no Terciário compreender
três cadeias no Marrocos (Alto Atlas, Médio Atlas e Antiatlas) e duas na
Argélia (Atlas Telianos e Atlas Saariano).
A formação dos desertos do Kalahari e da Namíbia, ao sul do
continente, diferentemente do Saara, estão associados à presença da corrente
fria de Benguela.
África
Subsaariana
Os países que formam a região são: Congo, República Centro
Africana, Ruanda, Burundi, África Oriental, Quênia, Tanzânia, Uganda, Djbouti,
Eritréia, Etiópia, Somália, Sudão, África Ocidental, Benin, Burkina Faso,
Camarão, Chade, Cote d’Ivoire, Guiné Equatorial, Gabão, Gâmbia, Gana, Guiné,
Guiné Bissau, Libéria, Mauritânia, Mali, Níger, Nigéria, Senegal, Serra Leoa e
Togo. Esse conjunto de países abrange o Sahel, extensão de terras localizada na
“borda do deserto” e que, historicamente foi habitada por pastores nômades que,
na atualidade e por influência do processo de colonização, em parte se
sedentarizaram. Aliado ao pastoreio, a partir de investimentos de inúmeros
organismos internacionais associados a empreendimentos privados, essa região
tem apresentado melhor uso do solo e resultados agrícolas satisfatórios na
produção de grãos, especialmente milheto (uma forrageira, que significa qualquer
espécie de vegetação, natural ou plantada, que cobre uma área e é utilizada
para alimentação de animais, seja ela formada por espécies de gramíneas,
leguminosas ou plantas produtoras de grãossorgo (um cereal, o quinto mais
importante no mundo, antecedido pelo trigo, arroz, milho e cevada) e arroz
África: sociedade em
transformação
A partir da
análise do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), focaremos temas fundamentais
relacionados à África, sua relação com outros países do mundo, os aspectos
demográficos e socioeconômicos, com destaque para a pandemia da Aids, um grave
exemplo das condições sociais que afetam a qualidade de vida de uma grande
parcela da população africana contemporânea.
O IDH é um índice
idealizado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), órgão
da Organização das Nações Unidas (ONU), para medir o desenvolvimento humano,
considerando dados sobre saúde, educação e renda per capita.Sua
escala varia de 0 a
1, sendo mais desenvolvido quanto mais próximo de 1 estiver o país. Segundo
critérios do PNUD, os países são classificados em quatro categorias: IDH muito
elevado (acima de 0,900), IDH elevado (de 0,80 a 0,899), médio (de 0,79 a 0,50) e baixo (abaixo
de 0,50). Até 2007, eram 3 categorias: IDH elevado (acima de 0,80),
médio (de 0,79 a
0,50) e baixo (abaixo de 0,50).
Países da África,
em sua maioria, não se encontram bem colocados no cenário mundial, e os piores
resultados estão na África Subsaariana. Essa é a região do planeta com os
países mais pobres do mundo, com indicadores sociais e econômicos que
demonstram uma péssima qualidade de vida. A maioria dos países africanos
apresenta um IDH baixo, principalmente os localizados na África Subsaariana: os
12 países com os menores IDHs em 2006 pertencem a essa região (Mali, Etiópia,
Chade, Guiné Bissau, Burundi, Burkina Faso, Nigéria, Moçambique, Libéria,
República Democrática do Congo, República Centro-Africana e Serra Leoa).
Analisando a tabela “IDH de alguns países africanos” na página 17 do caderno do
aluno, apesar da persistência das condições de vida inaceitáveis para o grande
conjunto dos países africanos, durante os últimos anos alguns deles conseguiram
deslocamentos e deixaram a condição de IDH baixo para atingir o médio.
As nações
subsaarianas, em geral, ainda mantêm as piores condições sociais e a mudança
desse cenário só será possível se houver um longo e amplo investimento social e
maior estabilidade democrática. Esses países são basicamente exportadores de
produtos primários, com baixo valor agregado, e a população ainda é, em sua
maioria, rural. Os Estados, muitos deles ditatoriais e corruptos, não são
capazes de assegurar as condições mínimas de serviços de educação, assistência
médico-hospitalar e absorção de suas populações no mercado de trabalho nas
áreas urbanas. As taxas de mortalidade e, em especial, a de mortalidade
infantil são, altíssimas. Conforme dados da CIA - The World Factbook, Suazilândia,
Angola, Lesoto e Serra Leoa apresentam taxas de mortalidade acima de 20/1000
hab., consideradas elevadíssimas se comparadas aos de países em desenvolvimento
como o Brasil (6/1000 hab.), por exemplo.
De certa forma, a
influência dos modelos coloniais também pode ser responsabilizada pela atual
situação desses países. O alicerce dos Estados africanos foi constituído,
quase sempre, pelo aparelho administrativo criado pela colonização européia. No
momento das independências, o poder político e militar transferiu-se das
antigas metrópoles para as elites nativas urbanas, que instalaram regimes
autoritários. Muitas vezes, essas elites representavam apenas um dos grupos
étnicos do país, marginalizando por completo as etnias rivais. Como resultado,
de modo geral, a vida política africana foi sobressaltada por sucessivos
conflitos internos (incluindo golpes de Estado) e contaminada pela violência e
pela corrupção.
População e
urbanização
Observe as
principais áreas de concentração populacional na África e os grandes vazios
demográficos no mapa “África: cidades e principais portos” na página 18 do
caderno do aluno. As principais cidades (que são as mais populosas) e os
principais portos, em regra, estão localizados em grandes cidades do
continente.
As áreas mais
povoadas estão próximas ao litoral, no Vale do Rio Nilo, e no entorno dos
grandes lagos, como o Lago Vitória. Além das áreas próximas ao Rio Nilo, também
apresentam grande concentração populacional as áreas próximas a outros rios,
como Zambeze, Níger e Orange. A proximidade com o Mar Mediterrâneo e com a
Europa são os principais fatores que tornam o litoral norte do continente
densamente povoado. As áreas que apresentam as menores densidades demográficas
são as áreas desérticas (principalmente os Desertos do Saara e de Kalahari), o
Sahel, região semiárida no entorno do Saara, e as áreas de florestas densas,
como é o caso da floresta equatorial do Congo. Em alguns casos, áreas próximas
aos domínios florestais podem apresentar adensamentos populacionais em virtude
da localização de algumas capitais, como é o caso de Kinshasa, capital da
República Democrática do Congo. Além dos fatores físicos, há fatores históricos
ligados a um passado anterior à colonização, que contribuíram decisivamente
para a atual configuração da distribuição da população no continente.
Economia
africana
A Europa, a Ásia
e a América do Norte são os principais mercados compradores e fornecedores do
continente africano. As relações assimétricas entre África e Europa não se
restringem ao passado histórico (tráfico de escravos e colonização), mas também
são perpetuadas ainda hoje perante a globalização econômica que reproduz
esquemas de dependência.
Se
compararmos as trocas comerciais realizadas nos espaços intrarregionais da
Europa e da África é nítido o contraste: há maior integração no primeiro
continente em virtude da União Europeia (UE) e outros fatores do que no
continente africano. Há pouca expressividade no montante de trocas
comerciais verificadas no espaço intrarregional da África, mesmo possuindo
várias organizações regionais para fins de integração econômica. Algumas causas
e fatores dessa pouca expressividade são:
- o
enfraquecimento dos Estados africanos em função das heranças históricas do colonialismo
e também em virtude de fatores políticos e econômicos geradores de
instabilidade interna, o que impõe dificuldade para se afirmarem perante a
globalização;
- o fato de a
globalização em curso reproduzir esquemas de dependência econômica na África,
pois, como uma das heranças do passado colonial, grande parte de seus países
possui economias pouco diversificadas, exportadoras de produtos primários,
agrícolas, minerais e petrolíferos, o que não permite romperem com o modelo
financeiro que os subordina aos mercados dos países consumidores. Tal
característica faz com que a África conte pouco na economia mundial, ainda que
suas trocas comerciais com outras regiões do mundo se desenvolvam, em
particular com a China;
- o continente
africano perdeu importância geopolítica depois do fim da Guerra Fria
(1947-1989), cujos reflexos se fizeram sentir até mesmo na redução do montante
da ajuda humanitária sob todas as suas formas, principalmente durante a década
de 1990.
As características
das exportações da África Subsaariana são:
- as exportações
dessa grande região africana crescem em valor absoluto, mas com ritmo inferior
ao mundial. De acordo com dados do L'atlas de l'integration régionale
en Afrique de l'Ouestel, elas representavam em 2007 aproximadamente 1% do
total mundial contra 1,7% em 1996 e 3,1% em 1970, o que ilustra sua dificuldade
para se integrar e acompanhar a globalização em curso;
- segundo dados
da OMC (relatório 2009), a parte dos produtos manufaturados nas exportações da
África Subsaariana continua pouco expressiva, na ordem de 25%, constituída por
um conjunto parco de produtos e número restrito de países. Entre os produtos
manufaturados exportados por essa região encontram-se os pouco transformados
(pedras preciosas, ferro, alumínio, prata, platina etc.) e outros manufaturados
como vestuário (Ilhas Maurício, Botsuana, por exemplo) ou ainda automóveis
(África do Sul). Entretanto, o essencial das exportações (mais de 70%) dessa
grande região permanece composto de matérias-primas - produtos agrícolas,
madeira, minerais (bauxita, ouro, diamantes, urânio etc.) e combustíveis. Inclusive,
a exportação de combustíveis, que representa, isoladamente, mais da metade de
suas exportações totais, foi a que mais cresceu entre 1985 e 2000 (mais de
75%), o que atesta a importância desse mercado fornecedor diante das disputas
energéticas internacionais;
- embora as Ilhas
Maurício e a África do Sul apresentem uma diversificação de suas economias, a
maioria dos países africanos permanece especializada na exportação de dois ou
três produtos (realizada de forma não muito diferente do que no "dia
seguinte" das independências). Todavia, as cotações das matérias-primas no
mercado internacional (decrescentes nas décadas de 1980 e 1990) são muito mais
vigorosas desde o início do século XXI, o que contribui para que a África Subsaariana
mantenha a tendência de continuar como uma reserva de matérias-primas, como
algodão e milho, e compradora de produtos manufaturados. Isso parece ser
corroborado diante do clima de crescimento sustentado de uma parte do mundo e
da alta contínua da demanda energética, situação na qual se tornaram
"produtos sensíveis" algumas matérias-primas, o que contribui para
que a África Subsaariana se torne uma região de concorrências exacerbadas entre
as principais economias mundiais, fator adicional para desestabilizar seus
países mais frágeis;
- alguns países
africanos subsaarianos, como Nigéria e Angola, nos últimos anos, têm tido um
crescimento econômico muito intenso (acima dos 10% ao ano). Os investimentos
estrangeiros na área de exploração de petróleo e de gás natural vêm transformando
parte das economias subsaarianas, como, por exemplo, Angola, que tem crescido
cerca de 17% ao ano.
Veja os gráficos
“Mundo: investimentos diretos estrangeiros” e “China: comércio com os países
africanos” nas páginas 21 e 22 do caderno do aluno. Apesar de a África
continuar sendo o continente com a menor participação na captação de recursos
externos, na atualidade essa situação alterou-se um pouco em função dos
interesses chineses no continente. Em 2008 a África tornou-se o 3º. maior captador de
investimentos diretos chineses, sendo apenas ultrapassada pela Ásia e pela
América do Norte. Tal situação beneficia diretamente a China, que tem sido
acusada de ressuscitar uma nova etapa do neocolonialismo na África ao utilizar
o continente como base de produção e extração de bens primários para sua
atividade industrial, consolidando a divisão internacional do trabalho e da
produção.
A presença da
população chinesa na África também tem sido significativa. No decorrer das
últimas quatro décadas, o governo de Pequim enviou cerca de 20 mil técnicos
agrícolas e especialistas de diversas áreas para o continente. Na atualidade, a
migração de chineses para a África é sensível. Apesar dos dados não serem
precisos, calcula-se que cerca de 500 mil chineses vivem e trabalham no
continente. Os chineses têm sido os maiores investidores na África Subsaariana
e a presença chinesa no continente data da década de 1960, quando participaram
ativamente na venda de armamentos para grupos comunistas insurgentes (rebeldes)
em diversos países africanos. Após as mudanças ocorridas na China em 1978, com
a abertura das Zonas Econômicas Especiais (ZEE's), e principalmente no século XXI, após o crescimento da economia chinesa, os
interesses bilaterais entre as partes pautaram-se na ampliação das vendas de
manufaturados e nas compras de matérias-primas (principalmente petróleo e
minerais metálicos). Para favorecer a compreensão quanto às mudanças do
comércio mundial e ao papel da África no processo de globalização, vamos ler e
analisar o seguinte texto:
“Nos últimos
anos, os produtores de legumes e verduras para venda nos mercados locais dos
arredores de Harare, capital do Zimbábue. ingressaram no negócio de fornecer
hortaliças frescas para os mercados londrinos. As hortaliças são transportadas
para o aeroporto logo que são colhidas, são conduzidas em voos noturnos para
Heathrow e na manhã seguinte já se encontram nas prateleiras de Tesco. Essa
atividade de exportação depende de pelo menos três fatores. Primeiro, de
transporte aéreo barato - os velhos e combalidos Boeings que se transformaram
nos navios cargueiros a frete do comércio moderno. Segundo, da eficiência das
telecomunicações - as hortaliças são fornecidas a pedido, significando que as
mensagens devem ser entregues aos produtores por meios que antes só eram
possíveis nos países avançados, com bons sistemas telefônicos. Finalmente, é
lógico, o comércio depende de um mercado inglês aberto. Seria inviável se cotas
de importação e tarifas elevadas impedissem a venda.”
KRUGMAN, Paul. Globalizações
e globobagens: verdades e mentiras do pensamento econômico.
A questão da Aids
Com o objetivo de enfocar a gravidade da situação da saúde
na África, particularmente a Aids, é interessante analisar o gráfico
“Principais causas de mortalidade no mundo e percentual da África” na página 23
do caderno do aluno. Nele é
possível identificar que as condições sociais da África refletem
diretamente na qualidade de vida, o que resulta em taxas de mortalidade
elevadas associadas a condições inadequadas de saúde. Alguns dados do Informe
sobre a Epidemia Mundial de Aids (agosto de 2008), publicação conjunta da
Unaids (Programa Conjunto das Nações Unidas sobre o HIV/Aids) e Organização
Mundial de Saúde (OMS). De acordo com essa publicação, entre as populações da
África Subsaariana, a prevalência (maioria) de HIV em indivíduos com 15-49 anos
é de 5%, ao passo que no resto do mundo é inferior a 1%. Nessa região, a
prevalência de indivíduos HIV positivo na população adulta ultrapassa 15% em
oito países (dados de 2007): Botsuana, Lesoto, Moçambique, Namíbia, África do
Sul, Suazilândia, Zâmbia e Zimbábue. Na África do Sul, a avaliação de grávidas
em pré-natal mostrou 29% de soropositividade, enquanto, na Suazilândia, 26% dos
adultos (15-49 anos) são soropositivos. Com o auxílio da tabela “Adultos e
crianças vivendo com HIV”, na página 24 do caderno do aluno, perceba que, dos
33,2 milhões de pessoas vivendo com HIV no mundo em 2007, cerca de 68% vivem na
África Subsaariana. Ao contrário de outras regiões, a maioria das pessoas
vivendo com HIV na África Subsaariana é de mulheres (61%); o número
de novos casos (adultos e crianças infectados durante o ano de 2007) foi
estimado em 2,5 milhões, e mais de 1/3 desses novos casos ocorreu na África
Subsaariana; do total estimado de óbitos durante o ano de 2007 (2,1 milhões),
76% ocorreram na África Subsaariana (diariamente, 6 800 pessoas tomam-se
infectadas e 5 700 morrem em decorrência da Aids no mundo, a maioria em
virtude do acesso inadequado aos serviços de prevenção e tratamento).
Os efeitos
demográficos da Aids são alarmantes, destacando, por exemplo, o declínio da
expectativa de vida em vários países africanos (veja gráfico “Esperança de
vida ao nascer, com e sem Aids” na página 25 do caderno do aluno) e as consequências
expressas na pirâmide etária de alguns países subsaarianos, como Gana e Lesoto,
também em decorrência da Aids (“Gana e Lesoto: mudanças na estrutura etária das
populações” na página 26), observando a diferença entre as pirâmides de 1950
(sem influência da Aids) e de 2007 (com a influência da Aids).
A pandemia da Aids, ao contrário da
maioria das doenças, que atingem principalmente a população jovem e os idosos,
afeta faixas etárias intermediárias de jovens e adultos. Para
um país, os efeitos demográficos são comparáveis aos de uma guerra, pois grande
parte da população economicamente ativa é afetada, resultando em descompasso
entre a faixa da população em condições de gerar riqueza (que estão na faixa de
15 a 60
anos), e a possibilidade de melhoria das condições de vida de toda a população,
afetando diretamente os núcleos familiares ao criar uma geração de órfãos da
Aids.